Saturday, November 21, 2009

No fundo


Um dia fui um embrião. Conheci o desespero de ser lançada num mundo que me desentende.

Natureza, minha bela mãe
Por que se esconde no infinito
Quando de ti tanto preciso
Vendo meu ser que dói e cai

A feminilidade sadia se esvai
Quando a identidade é estranha
E mesmo na nefanda sanha
Nada de vida e brio a atrai

O pavor é grande e nocivo
Maior e ignoto é o próprio perigo
De ignorar de si e do outro
Que outrora era o mundo e foi-se embora

Carência de um bem-querer
Um saber que se é gente
Um sentir em si o prazer
Do estar em corações presente
,

Monday, October 19, 2009

Válvula de escape


Figura cristalina do olhar
Focaliza cantos e ações
Dilata, repentina, a retina
Frente a arte e suas produções

Desenha, sem saber, até um Deus
Invade privacidade das maiores sensibilidades
No entanto, todo enfoque tem em tento
Não ferir ou perfurar o fimamento

Cria-se cores, sabores onde não há
Rancores, desamores que instigam
Viajar na fantasia e enrolar
Esculpindo com gozo e peleja o angustiar

» pressão que dói e quer ser exaurida → impossibilidade → escape → poema

Thursday, October 15, 2009

Infância tanta


Uma época dum mundo gigante
Uma época dum mundo distante


Um caminho de vivências tantas
Carregadas de afetos e mantas

Naquele mundo cabiam os desejos
Que hoje extravasam os poros
Ampliaram-se os ensejos

Contudo no coração eu choro
Ainda como antes e tanto
Esperando o conforto de teu manto

Saturday, September 26, 2009

Centelhas de lucidez


Oh sacra ignorância
Deixe-me
Saudosa, em canto
Dolente por tanto encanto
Escapa-me

Lépido ar refestelado
Aninhado à cômoda inércia
De todo em separado
Ante as convulsões de minha solércia

Procuro com ânsia por toda parte
Pardelhas com santa boa-vontade
Por onde andas, mundo, que já é tarde
Da minha pessoa, ser, alguma parte?

-

Wednesday, September 9, 2009

Medo!


Renasce angústia, ansiedade, solitude, incompreensão...
Oh, Senhor! Onde eis de estar minha razão?
Ou seria desrazão? ... aflição, sem dúvida!
Fumo? Tomo rivotril? Ah!
Qual seria a menos pior opção?
Quem terá a solução? Muita mágoa no coração.
Paralizante má água escorrendo pelo rio de lágrimas
Inexistentes em meu olho físico,
Ardentes na visão do espírito!

Wednesday, September 2, 2009

Pena


A correria de meu sangue nos membros
Atropela-me o pensamento

No limbo espero por entre mil acentos
Pela minha sentença no firmamento

Ácida, áspera, plácida
Desconcertante acrania processante

Indaga-me pelo eixo,
Forte seguro a pilotar

Dou-lhe um beijo
E a deixo me massacrar

Tuesday, September 1, 2009

Sombrinhas de Sol





Palavras faltam-me
Palavras machucam-me
Palavras punem-me
Palavras resgatam-me

Onde estou?
Que sou?
Por onde andei?
O que sei?

Falhas, atos, lembranças
Mosaico de loucas andanças
O que será "balanças"?

Falas, "sapos", reveses
Rodadas cem vezes
O que me acorda às vezes?


Thursday, August 6, 2009

Noite de Insônia Simultânea




Quando percorri os labirintos noturnos dos meus sonhos
Percebo meu olhar escancarado e a perda do brio de minha tez
Renascendo de manhã, sem pesar, sem pesares...
Ajunto os grãos, faço um café forte


Que aliviam meus órgãos perdidos nas garras do Hades.
Em vigílias insustentáveis, ando de noites a luares
Enfureço ao ver que não o esqueço, charmoso, carinhoso; desmonto
Minha farça de mentir que ele nada vale; tanto salvou desolados e oprimidos

Admito, por fim: sim, ele salvou a mim, fez-me vigorosa e confiante
Vou lá, ensaio um toque à porta, esqueço o orgulho
Vulnerável, quase chorando,
Chamando-o de volta à minha felicidade

De amar, sonhar, viver.

Wednesday, August 5, 2009

Incerto caminho




Louvando a dádiva de receber à inconsciência
Energia, dons pra ser o Sol, a lua, o vento, a luz
Na ilógica coerência que no alento me seduz
Por ser única e original sua doce imanência

Espera o Sol em mim aquecer o abstrato
Inquieta a lua em mim a esconder seu tato
Desordena em mim o vento a deixar-me inerte
Inebriando a luz em mim a orar: desperte!

Se tão pouco há de formosura
Se tão pouco há de abastança
Sobra meu ser em alva ternura
Sabe o mistério que leva uma dança

O tempo passa e sempre me diz
A vida é a graça de aprender, tecer
A malha dos haveres e ser feliz
Amando a sempre e mais a tez

Do ser que um dia se desprende
Do medo e liberta o coração
Dá a mão e, então , surpreende
De tão inefável , ardente paixão

Sunday, July 19, 2009

neuroléptico




soy un cuerpo a murir en estas líneas

mientras haz el efecto
de la medicina demasiada
que,

por tanto de resistir,

he tenido que tragar todo a la vez

soy esta alma a esperar

el descanzo deseado y requerido;
a dejar esta temprano vieja y fea carne
esto corazón más que doloroso
angustiado

a pedir por la paz

todo solo me obriga a hacerlo dormir
y suprimir todo el mal

que hiz al mundo y el otro

perdón por me he conocido
y, así, la verguenza de saber iso

gracias por su gentileza, cavallero

hasta otras vidas, o no
adiós, espero

Thursday, July 16, 2009

Confesso? Você decide!


Sofro, tremo, arrepio. Mesmo o controle só vem tardio. Culpa, remorso, solidão. Motivo? Lamento, não sei onde se enfiou a explicação. Ninguém me entende. Decidi ficar com a fé e lembranças boas, embora eu me sinta de outro universo. Expio agora o que nem sei se compreenderei um dia. Abro mão de minha mente, pois meu espírito consente. Entrego-me. Ainda sem ser humana, sem ser humano. Espero. Desentendo. O silêncio me corrói tanto quanto as vozes ensurdecedoras escutadas só por mim. Muda, não muda, eis o que descobrir. Minha identidade, meu lugar, minha responsabilidade, que mais haverei de buscar?

Execráveis entes estes que introinvadem a carne, o sangue, o osso, o funcionar cerebral. Caverna abismal de trancas inxoráveis os abrigam com suportes mascarados, próprios pais. Choque! Delírio tenta negar, porém a nefasta dor dilacera tudo: resto... perplexa!


Envenenada pelo não nomeado, inscrito no sensitivo, endiabrado no coletivo, "pero no mucho''. Arde, queima, escoa e lesa, pesando o misterio a tapar a claridade, driblando todas buscas de oportunidade. Soçobro... Nesgas de futilidades, entrego-me, aquebrantada.



Saturday, July 11, 2009

Tumor psíquico



No vale das chuvas, onde reinavam corcéis alados e faziam brilhar suas crinas douradas, ela se perdia andando pelo teto com a pele sentindo as gotas de mel vindo das avessas núvens do arquipélago.

O silêncio, estrondosamente surdo, penetrava-lhe nas entranhas pelos órgãos perdidos e desviados de suas funções.

A brisa úmida, cheirando terra molhada, atingia-lhe as vistas pelo odor transmutado na movimentação pela percepção ininteligível.

As vozes pelo nariz se debatiam arrulhando o clima desse espírito inapreensível.

Ao tempo se servia, enquanto à morte não jazia, explodindo pelas veias o mel amargo a que sua sede não satisfazia, contudo o dourado expandia seu brilho pelos poros que tanto ardiam naquela transcedente vivência que a surpreendia.

No desvalor daquela existência malquista e desprezível subiam e desciam os ares compostos e decompostos em involuntárias recepções e doações à sua revelia.

No entremeio, após receber o sopro da vida um pouco antes de doá-lo, então sentia o nada, o tudo, a inutilidade de toda a algaravia imaginada de fractrais mentais dissolvidos no deslizamento sem fundamento deste decorrer do tempo paralizado nesse andamento.

Tuesday, July 7, 2009

Frio



Não enxergo luz no futuro. Estou com frio, medo, confusa. Parece que muita gente espera coisas de mim e sou depreciada porque não respondo. O mundo inteiro contra e querendo-me mal, embora isso não seja externalizado. Uma pressão forte no peito, muito medo e tristeza.

Desejo ser autora de minha história, escrever o meu destino, assinar minha identidade, com orgulho e liberdade, contra a hipocrisia e trivialidade, aguentando as pressões e as superando com minha personalidade. Possuo ser, interioridade, inatingíveis por quaisquer pretensas autoridades.

Sou bebê no saber, idosa no sofrer, jovem no incompreender...

Questiono a vida, questiono a morte, questiono a Lei, questiono a sorte...
O que quer a dúvida nesta incômoda aguilhoada que perfura meu coração?

Tenho nome e história, família e memória, objetos e trajetória, só careço de projeto e vitória.
Tenho estudo e sentimento, tenho lazer, divertimento, só careço de uso e fundamento, talvez discernimento.
Tenho educação e cultura, só careço de estima e aventura.
Tenho habilidades e defeitos, careço intimidade e respeito, talvez também de preceitos...


Thursday, June 25, 2009

Psicose






"A loucura é aterradora, posso assegurar-te isso, e vale a pena tê-la em conta: na sua lava encontro ainda a maior parte das coisas acerca das quais escrevo."
(V.Woolf in 'carta a Ethel Smith')


Um surto psicótico abala a maior intimidade e os valores mais profundos de uma pessoa e ela se vê obrigada a revê-los e reelaborá-los, porém sem qualquer segurança transcendental como a oferecida pelas religiões.

Pode-se acreditar que as pessoas riem de si e que se é a causa de todos os problemas. Frequentemente há necessidade de se ser castigado. Sente-se um corpo monstruoso, os detalhes das coisas ficam sinistros, bestiais, aterrorizantes, sons não deixam ler, pensar, concentrar direito...


Saturday, June 20, 2009

Atualizando



Eu tenho uma missão, temo não conseguir cumpri-la como deveria. Não possuo este íntimo conhecimento e vivência de loucura, o raciocínio-lógico rápido, a sensibilidade à transcendência e a facilidade espontânea com a escrita à toa. Alguns escreveram ou escrevem pelos analfabetos, pelos idiotas, pelos criminosos, pelos homossexuais ou pelos animais. Outros, como eu, escrevem pelos loucos, não para eles. Isso não é pouco ou fácil. Escrever pelos humanos realizados, adaptados, vitoriosos dá dinheiro, prêmios e reconhecimento. Mas escrever pelos loucos é admitir também os defeitos deles, não um elogio ou apologia à doença mental, todavia um dar voz através do reconhecimento e apresentação dessa condição de ser tal como é. Esta é minha missão, ainda que sabendo só a idéia já ser considerada algo de delírio de grandeza ou ideal inatingível que causará ainda mais dor, despreza e incompreensão se não chegar ao mínimo necessário da meta. Os obstáculos são tudo e todos e, no entanto, é essa a minha tarefa. Não de hoje, ontem ou amanhã, sempre foi. Apenas estou atrasada. Também o masoquismo primordial, freudianamente, é outro grande obstáculo.

Tuesday, June 16, 2009

Extravagância


A natureza
É exótica


O amor
Também



E assim
A arte

Tentando expressar
Harmonia e paz

Com o que
For capaz


Friday, June 12, 2009

Ainda confio




Silêncios conectados onde pensamentos
sintonizados, parecem darem-se as mãos.
Eu nunca me senti assim antes.

Perdi o ponto onde errei, olho o firmamento.
Embora eu sinta a tua graça em coração, nada é com'antes,
A dor da saudade imensa, do saber a verdade alienante,
Ver de perto a audácia do que nos tirou do sério

E ainda confio na tua fidelidade.
E ainda confio na tua verdade.
E ainda confio na tua essência branda.
Mesmo após a intromissão da realidade nefanda.

Nebulosas dúvidas hoje fazem sentido,
não que seja o melhor, apenas mais autêntico
quando indago por que demoramos tanto e, comigo,
é o teu coração que eu sinto pulsar.
Agora não é mais a experiência adolescente a se tratar

É a descoberta da responsabilidade, toda ela.
Onde entrego-te minhas poucas energias restantes.
Acreditando no devir, no teu poder de ser feliz.
E, assim, desarmada, confesso-me apaixonada
Esperando, confio a ti, a escolha: serei-te a amada?

~

Saturday, March 14, 2009

Fantasma




Oh fantasma de minha vida
Aparece e mostre-me a tal ferida
Cena infantil, memória, trauma, fantasia mil

Romance eterno que vivo hodierno
Mutações ao acaso, perdi-me na sequência
O que aconteceu, acontece, acontecerá?

Sei lá nem implica compaixão divina
Constrói com energia, começa na ativa
História desfacelada, criticada, escandida

Reduzir em uma frase
Toda a culpa que me tira
Benefício, ao devir, nem se pronuncia…

Thursday, January 22, 2009

Joio


De frente sorrisos

Elogios, parolle

Ausente, fuchicos,

Interesses, cinismo

Se ódio fosse mensurável

Através de algum instrumento

Nenhuma diferença faria

Pois o meu ultrapassaria sua capacidade

Grande talento, extraordinário

Verdadeiro ímã

Capaz de mobilizar tanta energia negativa

Para tão ínfima existência


Eu não me entendo. Escrevo, estudo, busco chaves pros mistérios que me tangem... Adorno minhas dúvidas, contemplando-as aereamente e deixando-as livres para se dispersarem por conhecimentos diversos. Às veszes, aproximo-me demais do meu cerne vulnerável e, de certa forma, perigoso. A verdade do ser que se pensa amedronta e pede pra ser encoberta, ao menos com uma fina camada de ambições e sonhos positivos. Então a esperança é renovada e coadunam-se todos os valores positivos e princípios primordiais para minha contínua caminhada em busca de mim mesma.

Saturday, January 3, 2009

Viagem insólita






O mundo, o corpo, as pessoas
Parecem distantes, ambulantes, pedantes
Movimentos, sinais, repetições
Inundam a vista, o ouvido – percepções

Nervos frágeis, reflexos inatos
Dor profunda, protege de atos
Impulsivos, inconseqüentes
Amenizam os prepotentes

Ultrapassar a consciência
Para além da linha controlável
Exige calma, extrema paciência

Consegue-se, de fato, mudança irreparável

~

Friday, January 2, 2009

Vias de(vidas)




As palavras fogem
Por medo
De serem fortes
Por apego
À má sorte

A história anda
Por dever
À trajetória
Por não saber
O que é vitória

A mente pára
Por cansaço
De muito lutar
Por abraço
Ao discordar

A vida insiste
Por amor
À criação
Por louvor
Ao coração